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Cirurgia Bariátrica é o método mais eficaz, para o tratamento da obesidade morbida. Há várias técnicas cirúrgicas disponíveis, dentre elas:

 

Gastroplastia Redutora sem Anel com Reconstrução em Y de Roux (Gastric Bypass)

O estômago é seccionado através de grampeadores e confecciona-se um pequeno reservatório (neoestômago) de 20 a 30ml que esvaziará seu conteúdo diretamente em um segmento do intestino delgado (desvio em forma de um “Y”). O estômago excluído permanece no abdome (garantindo possível reversibilidade à cirurgia) e suas secreções, assim como a bile e o suco pancreático, entrarão em contato com os alimentos apenas na nova comunicação intestino-intestino (outra perna do “Y”). Como já mencionado, esta é a técnica mais realizada no mundo inteiro, atinge uma perda entre 75% a 85% do excesso do peso e apresenta excelente índice de resolução da comorbidades, especialmente entre os diabéticos.

Mecanismos de Emagrecimento: 1) Redução da ingesta alimentar: Esta restrição é dada pela diminuição da capacidade do reservatório do estômago, que passa de cerca de um litro para 20 a 40ml - volume suficiente para se emagrecer com saúde. Seguindo as orientações nutricionais e de suplementação, o paciente passa a ter vida normal após a fase inicial de adaptação.
2) Saciedade precoce: O neoestômago, após receber pequena quantidade de alimentos, se distende e gera uma sensação de saciedade.
3) Ausência de fome: Especialmente nos primeiros meses após a cirurgia, o hormônio da fome (grelina) produzido pelo estômago excluído diminui bastante a sua produção.
4) Disabsorção alimentar: Embora nesta técnica a disabsorção seja pequena, ela também contribui para o resultado final. Como os alimentos deixam de passar por uma parte do intestino delgado, eles não entram em contato com secreções gastro-bileopancreáticas essenciais para absorção dos nutrientes. Esse contato só acontece na comunicação intestino-intestino.
5)Dumping: Efeito colateral "benéfico" que inibe a tentativa de "burlar" a cirurgia com o consumo de alimentos ricos em carboidratos e gorduras (péssimos para quem precisa perder peso). Nessa situação, o paciente experimentará uma sensação desagradável de sudorese fria, pressão baixa e cólica abdominal, passando a evitar a ingesta excessiva desses alimentos.
6) Atividade física: Após perda de peso inicial (que tende a ser grande, o paciente com sua autoestima elevada se estimula a praticar exercícios e, com isso, melhora sua perda ponderal.

Gastrectomia Vertical (Sleeve)

Esta técnica foi inicialmente desenvolvida para realizar a cirurgia bariátrica em dois tempos em pacientes superobesos cujo risco cirúrgico era muito alto. Sua utilização como procedimento cirúrgico definitivo ocorreu em 2010 devido aos bons resultados obtidos em relação à perda de peso (de 60 a 70% do excesso, um pouco menos do que na gastroplastia) e à qualidade de vida pós-operatória.
Tal técnica consiste na retirada definitiva (não há porção excluida) de toda a grande curvatura do estômago, a partir do antro (porção final), que fica então com aspecto de um tubo. Esse tubo fica com sua capacidade de armazenamento bastante reduzida (150 a 200ml). Apesar dos resultados iniciais promissores, ainda não temos uma instituição de saúde no mundo que faça este tipo de cirurgia bariátrica e disponha de acompanhamento dos resultados a longo prazo (mais de cinco anos) com referência à manutenção do peso perdido, reganho de peso ou outras intercorrências.

Mecanismos de Emagrecimento: 1) Restrição da ingesta alimentar pela saciedade precoce.
2) Diminuição da produção do hormônio da fome (grelina): Como o local de produção principal desse hormônio é na grande curvatura (fundo gástrico) e essa região é retirada, observa-se uma queda importante nos seus níveis, o que contribui para diminuir a ingesta alimentar. Tal mecanismo explica os melhores resultados para perda de peso com essa técnica em relação à banda gástrica (também uma técnica restritiva).

Banda Gástrica Ajustável

Esta é uma técnica restritiva em que se coloca uma prótese de silicone em forma de cinta na porção superior do estômago, deixando-o com aspecto de uma ampulheta (relógio de areia) e diminuindo a ingesta de alimentos. A passagem de uma parte do estômago para outra é dificultada por um ajuste feito através de um dispositivo fixado na parede do abdome, abaixo da pele e da gordura, mas palpável. Esse ajuste é feito em consultório. Por não haver cortes ou grampeamento do estômago, a banda gástrica ajustável é um procedimento reversível.

Mecanismo de Emagrecimento: 1) Restrição da ingesta alimentar devido à pequena porção de estômago acima da banda, que após ingesta se distende e induz saciedade. Esta técnica ocasiona perda de cerca de 50% do excesso de peso e exige que o paciente se mantenha bastante próximo da equipe médica para os ajustes frequentes e orientações. É preciso evitar alimentos líquidos e pastosos hipercalóricos que "passem" pela banda e prejudiquem a perda de peso. Nesta modalidade de tratamento, a seleção dos pacientes precisa ser bastante criteriosa para se alcançar bons resultados, já que disciplina e cooperação são fundamentais.

Cirurgias Disabsortivas

As técnicas mais comuns são:"Scopinaro" e "Duodenal Switch".
Com elas, o paciente terá uma liberdade de ingesta alimentar maior (em termos de volume), uma vez que o mecanismo principal de perda ponderal é a redução importante da absorção dos alimentos por conta de uma diminuição da área do intestino (devido ao rearranjo feito pela cirurgia) destinada para isso. Tal técnica praticamente não é mais utilizada, porque, embora conceda mais liberdade de ingesta (o que é sedutor) e traga ótimos resultados para a perda de peso e cura de comorbidades, a qualidade de vida do paciente é bastante prejudicada pelo excesso de fezes e flatulência (em mais quantidade, frequência e odor). Além disso, é um procedimento que torna obrigatória a necessidade de repor inúmeras vitaminas e sais minerais em grande quantidade, com controle severo sobre as taxas do organismo sob pena de haver descompensações graves.

 

 

Indicação Cirúrgica

Quem já tentou todas as dietas milagrosas e se submeteu a exaustivos tratamentos, sabe das dificuldades e sofrimentos encontrados. A cirurgia bariátrica tem se mostrado uma técnica de grande auxílio na condução clínica de alguns casos de obesidade. São candidatos ao tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica) os pacientes com IMC maior que 40 Kg/m² ou IMC maior do que 35 Kg/m² associado a outras doenças, como hipertensão arterial, dislipidemia (gordura alta no sangue), diabetes e apneia do sono.
A seleção de pacientes requer um tempo mínimo de evolução da obesidade, além de histórico de falhas do tratamento convencional realizado por profissionais qualificados.

Pré-Operatório

Começa pela avaliação do paciente pela equipe multidisciplinar.
Na avaliação clínica, além de um exame clínico completo, são realizados exames cardiovasculares e respiratórios.
A avaliação nutricional consiste em medidas de peso, do percentual e da distribuição de gordura corporal do paciente, bem como do seu padrão alimentar. Também orienta-se o paciente sobre as futuras fases da dieta.
A avaliação psicológica poderá sugerir o acompanhamento psicoterápico no pós-operatório para garantir uma boa adaptação à nova condição, facilitando a fundamental reeducação alimentar do primeiro ano após a cirurgia. 

Pós-Operatório

Após a cirurgia, sempre executada por laparoscopia (pequenas incisões, sem abertura do abdome), o paciente é encaminhado ao quarto, sem drenos (não há UTI na rotina).
Quatro horas depois, é estimulado a caminhar a fim de evitar a embolia pulmonar.
Após seis horas, tem início a dieta líquida, com 30 a 50ml a cada meia hora.
No dia seguinte, depois de reavaliado pela equipe médica, o paciente recebe alta e terá à disposição todos os contatos necessários para acionar a equipe médica a qualquer momento e atravesse o período mais delicado com o mínimo de estresse. Como nos primeiros 15 dias o estômago ainda não está cicatrizado, o consumo continuará restrito a líquidos. Mas, dependendo da atividade, o paciente já poderá voltar ao trabalho.
Nos 30 dias seguintes, é permitido ingerir cremes, sopas e purês na dieta pastosa. Posteriormente, ocorrerá a introdução de alimentos sólidos.
No primeiro ano, o acompanhamento clínico e nutricional é trimestral, com realização periódica de exames e suplementação de vitaminas, minerais, fibras e proteínas.
As mulheres estão aptas a engravidar a partir de 18 meses após a cirurgia.
No primeiro ano, 70% do emagrecimento é resultado da cirurgia e 30% dependem do paciente. A partir do segundo ano, ocorre o inverso: 30% cirurgia e 70% paciente, o principal responsável pelo sucesso da intervenção.

Acompanhamento Clínico Pós-Cirúrgico

O paciente receberá orientações para melhor se adaptar à nova vida, sem prejuízos à saúde.
Ao invés de esforço e sacrifício, o paradigma do emagrecimento passa a ser calcado na satisfação alimentar.
A terapêutica cirúrgica, junto com o acompanhamento da parte emocional, viabiliza de forma contundente a troca da culpa alimentar pelo prazer de nutrir-se. O registro de saciedade precoce faz surgir uma nova realidade, o que facilita a desconstrução psicológica da autoimagem de “glutão insaciável”. É uma oportunidade única para se tornar um gourmet!

Apoio Psicológico

Hoje, um portador de obesidade mórbida e de superobesidade pode contar com uma terapêutica extremamente eficaz para o combate de sua doença. A terapêutica cirúrgica é uma poderosa ferramenta para a perda de peso e consequente superação desta perigosa doença crônica. Mas, como o projeto não é uma solução mágica, ninguém sairá magro do Centro Cirúrgico; o paciente precisará estar bem posicionado e aproveitar a oportunidade, (principalmente no primeiro ano, quando as restrições alimentares são maiores) para sua reeducação alimentar. Isto não é uma missão impossível, ao contrário. É uma experiência real, que se vive passo a passo até se atingir o peso ideal. Este projeto facilitará uma mudança psicológica fundamental: trocar a culpa de comer pelo prazer de se nutrir.
Uma jovem paciente, muito satisfeita com a nova vida pós-obesidade, confessou-se aliviada: “Hoje, um ano após a cirurgia, eu me sinto mais livre do que nunca. Sou livre para comer e livre para parar de comer. Deixei de ser refém dos alimentos e posso comer com prazer, sem culpas... Passei a conhecer a saciedade”. É comovente acompanhar ex-obesos pacificados com sua experiência alimentar, superando o principal aspecto de sua “cabeça de gordo”, superando a culpa de comer.
A cirurgia é radical e atingirá a raiz do seu problema: a fome. O paciente terá a experiência relevante de não produzir grelina, hormônio da fome, durante um determinado período do pós- operatório. O estômago, que tem a responsabilidade desta produção (grelina) sempre que o organismo precisa se reabastecer de alimentos/energia, considerará esta tarefa secundária e a prioridade recairá na produção de enzimas de cicatrização. Esta fome fisiológica zero, que evoluirá para um registro de fome mais civilizada, abre espaço para rever posições e culpas, viabilizando a transição para um padrão “gourmet” de se alimentar. Um ciclo virtuoso se inaugura quando a pessoa deixa de viver para comer e passa a comer para se abastecer de energia e ter uma saúde vibrante.
O acompanhamento psicológico personalizado que oferecemos visa acolher todas as inquietações que possam afastar nossos pacientes deste posicionamento, gerando aceitação do seu ponto de partida e do ritmo pessoal do seu emagrecimento. Visa, ainda, estabelecer um compromisso de bons cuidados com a própria saúde, através do ato de perdoar-se de eventuais boicotes e sabotagens pessoais anteriores. Nosso objetivo é transformar a visível perda de peso em forte motivação para desapego de velhos hábitos alimentares, que, ao contrário de compensar e proporcionar prazer, aprisionaram seu portador em um padrão circular de sofrimento e desencanto.
Certa vez, um paciente compartilhou emocionado a sua sensação: “Antes de ir aos grandes desafios profissionais que surgem, recorro ao sentimento interno de vitória sobre minha grande obesidade, que imaginei intransponível, e isto me dá um tônus emocional capaz de me fazer sentir seguro e confiante e absolutamente apto a vencer também novos obstáculos”.
A doença é grave e cria falsas identidades psicológicas em quem a carrega, gerando conflitos e turbulências. Por isso, é muito gratificante acompanharmos a transformação dos pacientes que se livraram da doença e resgataram a autoestima, conquista fundamental para todas as nossas realizações pessoais.

Riscos Reais do Procedimento

Em 3% dos pacientes operados por nossa equipe, ocorre um estreitamento na junção do novo estômago com o intestino (estenose da Anastomose Gastro Jejunal), a anastomose gastrojejunal. Durante o ato cirúrgico, a anastomose é calibrada com uma sonda de 12 milímetros. Entre 30 a 40 dias após a cirurgia, os pacientes acometidos apresentam dificuldade de evoluir da dieta líquida para a pastosa e, muitas vezes, passam a ter dificuldade de digerir até mesmo a dieta pastosa. Esses casos são encaminhados a endoscopistas, que provocam a dilatação da anastomose através de balão pneumático.

É um procedimento sem cirurgia ou internação, no qual 5% dos atendidos ainda têm de ser submetidos a uma nova dilatação.

Risco de complicações imediatas: A mais grave complicação é a fístula intestinal, vazamento de algum líquido do estômago ou intestino para o interior da cavidade abdominal. O resultado é um quadro de peritonite (infecção do peritônio) que pode levar à septicemia (infecção do sangue). Mas este risco foi minimizado porque nossa equipe passou a reforçar a sutura por cima das zonas de grampeamento. Outro vilão da cirurgia bariátrica é a embolia pulmonar (entupimento do pulmão). Na cama, o paciente obeso represa o sangue, o que o torna sujeito a desenvolver trombose nos membros inferiores. Mas pode, ainda, liberar um êmbulo (fragmento de trombo) que corre pelas veias e atinge o pulmão. Mas nossa equipe tem o cuidado de fazer a profilaxia para a tromose através da deambulação precoce, utilização de heparina subcutânea no pós-operatório e meias elasticas.

Risco de complicações tardias:Além da estenose já mencionada, as principais complicações tardias são deficiências de vitaminas e sais minerais que podem acontecer caso o paciente não faça acompanhamento com equipe multidisciplinar.